O Caminho Silencioso - É necessário ouvir

Qualquer doença ou situação desagradável ao mesmo tempo que nos dá a sensação de fracasso também nos faz importante.  Muita gente se mostra solidária, quer de algum jeito te dar atenção, esse é um grande risco: muita gente permanece doente porque mantém esse "ganho secundário"!
Passei por isso também, mas minha própria natureza impediu qualquer tipo de associação desse tipo o que me fez ver o tanto que não ouvia ninguém em minha vida e esse foi um longo caminho que a depressão se instaurou.

A depressão e muitas outras doenças são processuais, ou seja, não nascem do dia para a noite, começam pequenas, minúsculas, invisíveis e podem permanecer assim por toda uma vida, como um parasita!

Crônicas e Agudas - Sempre adoreis escrever crônicas, contadas no tempo, mas com história, acho a crônica engraçada, já aquilo que é agudo é drama. No caso das doenças, é algo assim também, não percebemos o tamanho de uma tristeza, a não ser que seja um corte na vida, assim acumulamos diversas histórias tristes sem olhar com o devido respeito para elas.  Assim  a depressão se instala, assim a minha se instalou.

Quando me vi deprimido tinha uma pista, meus relacionamentos! Sabia que essa era uma área que tinha muito pouca habilidade (hoje quando escrevo -7 anos depois- sei que é uma dificuldade da grande maioria) e era essa a chave para o meu "tratamento", que começa pela pergunta: como vim parar aqui?

Sou de uma família de classe média, gerado nos anos 70 e a geração dos meus pais era aquela que passava por toda uma nova história, não era só de rasgar sutiãs, mas de novos papeis, novo jeito de viver e criar os filhos? Bem, criar os filhos era algo diferente, conversar sobre relacionamentos, sexo ainda era um misto de tabu e permissividade, vejo que ninguém sabia muito bem como lidar com isso, apesar de já saberem que os casamentos não duravam para sempre, como o dos pais deles. Sou de uma família dessas...

Mesmo com irmãos mais velhos ninguém me disse como era esse negócio, eu segui o modelo, mas intimamente achava que aquilo não era eu! Fui bem até a faculdade, namorei, bonitinho, seguia o esperado, mas logo percebi que além daquele modelo proposto havia meus sonhos e tinha um sonho, ter uma família, mas com outro modelo. As coisas não funcionam assim!

Graduei em psicologia, espírito subversivo, criativo e questionador, sempre buscando novos desafios, acabei indo parar no mercado de luxo, primeiro hotelaria, depois os vinhos e apesar de careta, resolvi viver a vida, sem drogas, mas vivendo, viajando, conhecendo pessoas, lugares, expandindo o máximo. Estudei muito além da psicologia, marketing, religião e em pouco tempo adquiri uma habilidade e rapidez de raciocínio e claro uma bela bagagem cultural. Por volta dos 30 anos chegar nesse estágio é um grande risco quando não temos a devida orientação espiritual, emocional, social e foi aí meu gatilho...

Virei o dono do mundo, e nada mais importava, mesmo respeitando a todos - sempre fui um cara educado- mas, com firmes objetivos seguia em frente feito um trator. Foi desse jeito que tomei as rédeas da minha vida e todas as decisões levados no peito. Casei, tive uma filha, me separei!
Parecia que tudo estava sob controle, não estava.
Depois dessa separação, houve mais duas, não olhei para nenhuma delas com o devido respeito, nem ouvia o que as pessoas me diziam.

Essa foi minha segunda grande descoberta: Ouvir as pessoas, procurar conselhos, ter uma outra opinião além da sua e acalmar os ânimos!

No meio desse período perdi uma das maiores expressões da minha vida, meu pai. Morreu muito cedo, fiquei não só órfão de pai, mas perdi uma referencia, porém o pior é que não levei isso tão à sério quanto deveria. Muito recentemente percebi o tamanho dessa perda, consegui dar significado a essa falta e o quanto poderia ter evitado tantos caos.

Minha depressão começou na primeira separação, aos cacos me juntei e segui em frente, pois o que se esperava de mim e o que eu esperava de mim, era que me reerguesse rápido, tolo engano deveria ter me dado o tempo correto.






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