O Tratamento - Limites, não Controle!

Os primeiros dias de uso da medicação são ruins. No meu caso deu sonolência, enjoos, enfim não é legal, mas depois de um mês....Vida que segue!
Saiba que a medicação pode estar inadequada, seja por não fazer nenhum efeito ou por prolongar efeitos colaterais? O remédio deve ser seu aliado, se não estiver funcionando vá novamente ao psiquiatra, se ele (o remédio ou o profissional) não responder adequadamente, procure outro!

O inicio do contato minha terapeuta, foi muita coisa, mas uma foi extremante importante: fui responsavelmente acolhido. Sem saber era o que precisava, uma pessoa segura e emocionalmente estável. Não poderia encontrar alguém que se abalasse com minha situação, precisava de alguém responsável, mas não fria, nem distante.

Nesse momento, tinha perdido o emprego, fiz a besteira de contar que estava com depressão, mas lembre-se era um cara subversivo, porém verdadeiro e achava que tinha que ser honesto, afinal não sabia o que viria e mesmo amplamente consciente do meu trabalho e rendendo o possível dentro do universo de um cara competente que chegava na casa dos 40 com algum sucesso e reconhecimento do meio. Foi uma das melhores coias que fizeram comigo. Tive tempo e recursos para me tratar. Da demissão decidi que ia me tratar e me afastar do meio e das atividades que tinha. Meu sentimento é que aquilo, há muito tempo, me colocava pra baixo, vivia para realizar os sonhos de alguém e não os meus.  Isso é óbvio, construí uma carreira, adquiri conhecimento e bagagem que poucas pessoas tinham, era natural que empresários me pagassem para colocar isso em prática nas empresas deles.

Essas chaves e não reclamar, pelo contrário, eram os primeiros passos para o meu tratamento espiritual.

Por conta dos efeitos do remédio, minha nova vida com pouco trabalho, não conseguia emagrecer, estava beirando os 95 quilos (fico bem com cerca de 80 kg). Sabia que tinha que cuidar do corpo, não adianta curar a depressão e ter um ataque cardíaco. Mudei minha alimentação, passei a comer de 3 em 3 horas, muito menos carne e refrigerantes, mas foi só com uma decisão muito difícil que tive que tomar que emagreci de um mês para o outro cerca de 8 kg e aquilo que dei risada quando o cardiologista falou aconteceu, desse fato até 2 meses cheguei aos 76 kg. Claro que virei um pau de sebo seco, mas achei legal, apesar da família me achar extremamente magro. Tudo isso aconteceu, nos momentos em que me recolhia ao meu quarto (e fazia isso com muita frequência) e conversava comigo mesmo e com Deus e para não chocar ninguém o chamava de o Criador, ou Universo.


Devemos nos livrar de tudo aquilo que é excesso, todo o peso, daquilo que não temos a menor condição de carregar, mas por puro egoismo, mantemos.

Lembra que disse ter me dado alta do psiquiatra? Foi nesse momento, me sentia mais seguro, fazia terapia já cerca de 6 meses, semanalmente, e cuidava do espirito diariamente. Pensei, não preciso mais dessa muleta, já dá para se virar sem. E deu!
(Não recomendo, o ideal é desmamar, ir tirando o remédio, fase em que estava, e depois retirar por completo).

Mas, havia um ambiente muito favorável, um irmão com a desculpa de ficar mais perto de seu trabalho se mudou para minha casa (hoje dou risada, ele ficava num quarto minúsculo, mas entendi o quanto esse cara me ama), minha mãe me visitava com frequência, irmãos, irmã, minha filha sempre por perto, amigos, enfim tinha muita gente "de olho em mim" - tinha tanta gente que um dia estranhei, fui ao meu quarto e me veio na cabeça: Putz, deixa eu resolver isso. Sai do quarto e falei para todos que estavam lá: "Olha só gente, amo vocês, obrigado por se preocuparem comigo, mas quero que saibam eu não vou me matar".

Sim essa é uma preocupação com o depressivo, e infelizmente tenho que dizer é real!

Hoje agradeço muito por ter todas essas pessoas por perto, faz muita diferença no tratamento, essa é a parte espiritual agindo, são ligações de energia muito importantes e o amor a mais importante.

Nem tudo foram flores, evidentemente, passei muita escuridão, mas saber que ali era o fundo, me fez ter força para sair de lá.  Nem todas as pessoas são tão legais com o depressivo, elas se afastam na cara dura...fazer o que, é um direito delas. Essa exposição também as expõe.
Lembro de uma garota que saia, não era um namoro, mas saiamos com certa frequência e quando comecei a me tratar, não podia dirigir (efeitos do remédio), eu sumi. Ela resolveu ir em casa, tive que contar pra ela, ela fez aquela cara de compreensiva, entrou no meu quarto (acho que ela queria transar) e eu disse que não estava legal, houve um grande silencio. Ela me responde que não entendia o que era aquilo, foi embora e nunca mais me procurou.
Outra situação, um velho amigo aquele do telefonema ao pedindo indicação de psiquiatra, um amigo de longa data, desde a adolescência, esse também sumiu, jamais me ligou para saber como estava.

Claro que a gente se sente um merda muitas vezes, um pouco de raiva. Aí aprendi algo valiosíssimo com minha terapeuta (a quarta grande descoberta): Não devemos controlar nada, temos apenas que colocar os nossos limites!

Durante minha vida adulta, mesmo inconscientemente, queria controlar tudo, de alguma forma e apesar da minha atitude blasé, zen, low profile, por trás de tudo isso vinha uma ideia malévola de controle, de se tornar um super herói. Ganhar dinheiro significava comprar e controlar muita coisa. Para mim significava que estava ajudando os outros, mas não, puro controle!


Quem controla está para ser bem frustrado, quase que na mesma medida.

Os controladores são os que tem uma lista enorme de "ingratos". 


Fazemos as coisas por que queremos, por que podemos, depois de feitas as esqueça, dê em forma de amor, ou não dê.





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